Telma Weisz,
psicóloga e especialista em alfabetização, vê a aquisição do sistema de escrita
como um processo contínuo
O que é ser alfabetizado?
Telma Weisz: Vejo a
aquisição do sistema de escrita - popularmente conhecida como alfabetização e
que chamamos de alfabetização inicial - como parte de um processo. Mesmo os
adultos nunca dominam todos os tipos de texto e estão sempre se alfabetizando.
Ser alfabetizado é mais do que fazer junções de letras, como B com A, BA.
Qual
a diferença entre alfabetização e letramento?
Telma Weisz: No
passado, era considerado alfabetizado quem sabia fazer barulho com a boca
diante de palavras escritas. Só então se estudava Língua Portuguesa e
gramática. Para quem acredita no letramento, a criança primeiro aprende o
sistema da escrita e só depois faz uso social da língua. Assim como antes, isso
dissocia a aquisição do sistema das práticas sociais de leitura e escrita. Para
evitar essa divisão, passamos a usar o termo cultura escrita.
Qual a importância do professor como
leitor-modelo?
Telma Weisz: A leitura é uma prática e
para ensinar você precisa aprender com quem faz. Porém, este é um nó: como
formar leitores se você não lê bem? E como ler bem se você saiu de uma escola
que não forma leitores? A solução é de longo prazo e requer programas de
educação continuada que tenham um trabalho sistemático nessa área. Nas reuniões
do Profa, eram dados três textos ao formador. Ele escolhia um e lia para os
professores, que recebiam os três. Ao fim do ano, eles haviam lido 150 textos
de vários gêneros.
Como os pais podem colaborar na alfabetização?
Telma
Weisz: Lendo todos os dias para as crianças. Quem passa a primeira
infância ouvindo leituras interessantes se apropria com mais facilidade da
linguagem escrita. Assim, na hora em que lê e escreve de forma autônoma, já
sabe o que e como produzir. Isso também possibilita à criança entender os
textos que lê.
Por que saem das escolas tantos analfabetos
funcionais?
Telma Weisz: Porque a
escola só reconhece como alfabetização a aquisição do sistema. Em vez de
investir na competência leitora, concentra-se no ensino de gramática. Por isso
há analfabetos funcionais com muitos anos de escolaridade. Formar leitores e
gente capaz de escrever é uma tarefa de coordenadores, gestores e professores
de todas as séries e disciplinas. Eu diria que leitura e escrita são o conteúdo
central da escola e têm a função de incorporar a criança à cultura do grupo em
que ela vive. Isso significa dar ao filho do analfabeto oportunidades iguais às
do filho do professor universitário.
Como reverter esse quadro?
Telma Weisz: Lendo, discutindo, trocando ideias, vendo o que
cada um entendeu e pesquisando em fontes diversas. É preciso tornar o texto
familiar, conhecer suas características e trazer para a sala práticas de
leitura do mundo real. Se a função da escola é dar instrumentos para o
indivíduo exercer sua cidadania, é preciso ensinar a ler jornal, literatura,
textos científicos, de história, geografia, biologia. Consegue ler bem quem teve
algum tipo de oportunidade fora da escola. Os que dependem apenas dela são os
analfabetos funcionais. E a escola faz isso porque não compreende claramente a
sua função.
fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/entrevista-telma-weisz-403872.shtml
<acesso em 20/04/2012>
Entrevista 2
Reescrita de contos de fadas
Conheça neste vídeo o projeto da professora
Cátia
Elaine Nicolachick, de Itapoá (SC), sobre reescrita de contos de fadas. Ela
trabalhou com alunos do 1º ano e foi uma das vencedoras do Prêmio Victor Civita
2011. Um dos grandes diferenciais de seu projeto foi a qualidade dos livros
escolhidos para apresentar às crianças. Até chegar ao produto final (um livro
com a versão dos alunos para a história de Chapeuzinho Vermelho), os 41 alunos
conheceram edições clássicas, como a dos irmãos Grimm e a de Charles Perrault,
mas foram muito além. A professora levou para a sala exemplares de João
Guimarães Rosa e Chico Buarque de Hollanda, entre outros, mostrando a
importância de apresentar literatura de qualidade desde as séries iniciais.
Ministro da Educação Aloizio Mercadante fala sobre o piso do Magistério
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