Contar e encantar - a importância de contar histórias





 Contar Histórias: Uma Arte Imortal


Ana Lúcia Merege

Nos últimos anos, a arte de contar histórias vem sendo retomada não apenas
por terapeutas e educadores, mas por pessoas de todas as formações, de
várias camadas da sociedade, que se reúnem para partilhar sabedoria, afeto e
energia através das narrativas. Para fazê-lo, não há regras: o melhor é usar o
coração e a intuição, além da experiência que só se adquire através do tempo.
No entanto, uma discussão acerca do que significa contar histórias e do que é
necessário para isso pode nos levar a alguns pontos interessantes.
Em primeiro lugar, é preciso saber que contar histórias é uma arte popular.
Uma aproximação excessivamente acadêmica e/ou sofisticada pode esvaziar o
conteúdo emocional da narrativa, deixando o público pouco à vontade. Da
mesma forma, deve-se ter em mente que, embora o ato de contar histórias
possa se inserir numa proposta terapêutica ou num projeto pedagógico, não se
pode agir de forma mecânica, apenas para cumprir um dever ou para ensinar o
que quer que seja, de regras gramaticais a valores doutrinários. As histórias
devem ser contadas por e com prazer. Se não, nem vale a pena começar.
O background cultural do narrador e a sua familiaridade com as histórias
também são importantes. Ao narrar um conto maravilhoso, por exemplo, é
muito mais importante conhecer e ser capaz de visualizar o cenário em que ele
se desenvolve do que saber as palavras exatas. Saber de onde vem a versão que
se está narrando é bom, mas melhor ainda é saber trabalhar, criativamente,
com os elementos fornecidos pela narrativa, e ser capaz de levar o público a se
identificar e se interessar por ela.
A escolha do repertório é fundamental para um contador de histórias. Segundo
SAWYER, mesmo os contadores mais experientes encontram dificuldades com
alguns textos e mais facilidade com outros, sugerindo que se trabalhe com três
tipos básicos de material: literatura popular (onde se incluem os contos de
fadas), contos literários e trechos de livros (SAWYER, 1990, p. 153). Para ela,
a literatura popular é a mais fácil de trabalhar, pois tem uma linguagem
universal e uma estrutura narrativa simples. A opinião é partilhada por
RIBEIRO, segundo o qual “por mais que os requintes e lançamentos literários
sofram um constante aperfeiçoamento (...) a literatura infanto-juvenil
continuará tendo a sua faceta mais atraente na literatura de tradição oral e
mais propriamente nos contos de fadas (RIBEIRO, 2002, p. 14-15). Mesmo
para um público de adultos (ou misto) essas histórias jamais perdem o seu
encanto, sendo no entanto aconselhável que o narrador a estude previamente, conhecendo-a bem, a fim de ser capaz de transmitir todas as nuances contidas
em cada trecho e em cada elemento da narrativa.
A propósito desse assunto, é preciso esclarecer que existem diferenças entre
contar, ler e representar histórias, embora todas elas envolvam uma
preparação e uma performance mais ou menos elaborada. A forma como se vai
trabalhar depende de nossos gostos, de nosso estilo, de nosso objetivo... e,
antes de tudo, de nossa sensibilidade. De qualquer forma, o narrador se
beneficiará do domínio de algumas técnicas de voz e expressão corporal, bem
como – mais uma vez – do conhecimento profundo da história e dos
personagens. A sutileza é sempre preferível ao exagero. Como diz BUSATTO,
“o Lobo Mau não precisa falar grosso para demonstrar sua ferocidade (...). O
que podemos carregar do teatro é justamente a intenção que carrega um ritmo
preciso” (BUSATTO, 2003, p. 76).
A partir daí tudo se torna uma questão de tempo, de paciência, de
experimentação e, por que não dizer, de ousadia por parte do narrador, que irá
acertar e errar muitas vezes ao longo de sua trajetória. No entanto, se for
essa a sua vocação, ele irá persistir... uma vez que, para o verdadeiro contador
de histórias, o ato de narrar é parte inseparável da vida.
Contar histórias não é um ato apenas intelectual, mas espiritual e afetivo. Por
isso, as melhores histórias são as que contamos espontaneamente, a partir do
que carregamos em nossa bagagem de cultura e de experiência de vida.
Independente de qualquer sentido, contar histórias pressupõe antes de tudo a
vontade de falar do que se sabe, de doar sabedoria e conhecimento, de passar
adiante aquilo que se aprendeu. Mais simplesmente ainda: contar histórias é
aumentar o círculo. E, mesmo na falta de uma fogueira ou das lareiras de
nossas avós, podemos fazê-lo aqui e agora, partilhando nossas histórias,
lançando fios invisíveis que nos unem numa só rede.

http://www.botucatu.sp.gov.br/Eventos/2007/contHistorias/#









A MAGIA DE CONTAR HISTÓRIAS
Monica Weingärtner Otte
Anamaria Kovács
Resumo
No mundo de hoje a mídia está substituindo, cada vez mais, o diálogo nas famílias e diminuindo as oportunidades de desenvolvimento da imaginação infantil. O meio mais importante para atingir esse objetivo é a contação de histórias e a leitura, conduzidas num ambiente agradável para a criança. Contar ou ler histórias requer um certo preparo, que vai desde a escolha do texto até a sua apresentação.
Palavras-chave: imaginação; conhecimento; capacidade imaginativa; lúdico; afetividade.
1 INTRODUÇÃO
“A imaginação é mais importante que o conhecimento.”
ALBERT EINSTEIN

Vivemos um período muito interessante na história da humanidade. Nunca antes tanta informação e tanta comunicação chegaram aos  nossos lares, nossas escolas e aos nossos locais de trabalho e lazer.
Os atuais meios de comunicação e informação como TV, internet, revistas, jornais e vídeos prendem a atenção de grandes e pequenos. Em princípio isto é bom – o horizonte de conhecimentos é ampliado e está ao alcance de cada vez mais pessoas. No entanto, é preciso ver com muita sobriedade, que esses meios de comunicação e informação podem gerar graves problemas no desenvolvimento integral do ser humano. O perigo que nos ronda, chama-se individualismo. Crianças e adultos buscam e recebem as informações e os divertimentos, que a moderna tecnologia coloca ao alcance de todos, sem que para isso precisem envolver-se com os outros. A agitada vida profissional de nossa época faz com que no fim do dia todos estejam tão cansados que somente querem relaxar. O diálogo em família corre o risco de desaparecer, porque aquilo que os meios de comunicação oferecem parece mais interessante e não obriga ninguém a tomar posição.
Num passado já mais distante, havia espaço e tempo no seio da família para compartilhar as experiências e as vivências do dia-a-dia. Havia disposição para ouvir, falar e para compartilhar.
Em muitas famílias, após o jantar, todos se agrupavam ao redor do avô ou da avó, do pai ou da mãe, para ouvi-los falar sobre a história da família – e muitos tinham em seu meio um contador de estórias e histórias. Nessas horas um estava perto do outro, sentia o outro, afeto e carinho floresciam.
Os modernos meios de comunicação sabem contar e apresentar as velhas histórias, acompanhadas de som e imagem, de uma maneira tão bonita e fascinante, que os velhos
contadores de histórias não se arriscam mais a abrir a boca. A história vem tão completa que não se precisa pedir alguma informação a mais, nem mesmo é necessário usar a imaginação.
Aqui somos confrontados com outro grave problema: a capacidade imaginativa diminui. A história apresentada na TV ou em vídeo vem tão completa que não é necessário criar imagens e usar a fantasia para entende-la. Além disso, nesses programas o diálogo com o interlocutor é reduzido a zero. Ao espectador e ouvinte cabe olhar e escutar em silêncio – e ai se alguém ousa falar ou fazer uma pergunta...
No entender de Caruso (2003), atualmente, há opções de lazer como a televisão e o videogame. Muitas crianças estão sobrecarregadas de atividades como natação, ginástica, inglês, piano, além das obrigações da escola,  da lição de casa. O tempo que elas teriam, talvez, para ler um livro está diminuindo. Infelizmente, esse é um comportamento que está ocorrendo não só com as crianças, mas com os adultos também. E, até por um aspecto cultural do Brasil, falta incentivo, o brasileiro não tem a cultura da leitura.
Diante desta realidade cabe perguntar: o que nós pais e educadores estamos fazendo para resgatar o gosto pelo imaginário nas crianças? O que estamos fazendo para ajudar nossas crianças a expressarem seus pensamentos e  sentimentos e gostarem de conviver com os colegas e os membros da família? O que estamos fazendo para evitar que as crianças se tornem pessoas “ensimesmadas”, isto é, estejam centradas, quase que exclusivamente, em suas próprias questões?
A dura realidade de nossa época mostra que dia após dia aumenta o número de crianças que vêem os pais cada vez menos e passam a maior parte do tempo sozinhas. Razões econômicas e sociais forçam esta realidade.
Por isso, é de suma importância que pais e professores batalhem pelo resgate do lúdico, do gosto pela expressão oral/corporal, do gosto pela leitura, pelo desenvolvimento dos sentidos e sentimentos.
2 A CRIANÇA E O LIVRO
“O livro é aquele brinquedo, por incrível que pareça que, entre um mistério e um segredo põe
ideias na cabeça”.

MARIA DINORAH 3
Tudo o que acontece ao nosso redor, desde a nossa primeira infância, fica registrado em nosso inconsciente. Isto significa que tudo aquilo que vemos, ouvimos e sentimos influi no nosso desenvolvimento e amadurecimento.
Aplicando esta verdade fundamental – que a psicologia ensina – ao nosso assunto, arriscamos afirmar que felizes são aquelas crianças que, desde os primeiros dias de sua vida, experimentam a presença de livros ao seu redor. Na concepção de Abramovich (2003), o significado de escutar histórias é tão amplo...
É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, das dificuldades, dos impasses, das soluções, que todos atravessamos e vivemos, de um jeito ou de outro, através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não)pelos personagens de cada história (cada um a seu modo...) E assim esclarecer melhor os nossos ou encontrar um caminho possível para a resolução deles... É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes como: a tristeza, a raiva, a irritação, o medo, a alegria, o pavor, a impotência, a insegurança e tantas outras mais, e viver profundamente isso tudo que as narrativas provocam e suscitam em quem as ouve ou as lê, com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas faz (ou não) brotar... 
Decorre da leitura também a postura crítico-reflexiva que é extremamente relevante na formação cognitiva das crianças, partindo primeiramente do professor, para em seguida, despertar as potencialidade reflexivas dos seus alunos. Segundo Zilberman (1985, p. 25) "[...] é a partir daí que se pode falar do leitor crítico". Assim, a criticidade estará presente nas aulas de literatura, sem que se perca o encanto e o brilho dos contos de fadas e de fábulas.
Neste mesmo sentido, Abramovich (2003)  entende que “ouvir e ler histórias é também desenvolver todo o potencial crítico  da criança. É poder pensar, duvidar, se perguntar, questionar... É se sentir inquieto, cutucado, querendo saber mais e melhor ou percebendo que se pode mudar de ideia... É ter vontade de reler ou deixar de lado de uma vez...”.
O caminho para a leitura começa na infância quando as crianças passam a gostar de palavras e de ouvir histórias, além de animarem-se ao contar momentos de sua vida para pessoas próximas, afirma Dixxon (2003).
Mesmo não entendendo nada, a criança percebe se os livros existentes na casa têm ou não têm valor para os membros da família.
Conforme esclarece Abramovich (2003): O primeiro contato da criança com um texto é feito, em geral, oralmente. É pela voz da mãe e do pai, contando contos de fada, trechos da Bíblia, histórias inventadas tendo a gente como personagem, narrativas de quando eles eram crianças e tanta, tanta coisa mais... Contadas durante o dia, numa tarde de chuva ou à noite, antes de dormir, preparando para o sono gostoso e reparador, embalado por uma voz amada... É poder rir, sorrir, gargalhar com as situações vividas pelos personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever de um autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de gozação.  Há relatos de poetas e escritores que descobriram no decorrer de sua vida que seu amor à literatura e, mesmo, muitas de suas poesias e de seus contos tiveram o seu nascedouro já na sua primeira infância.
Da mesma forma, outras pessoas descobriram a origem de sua aversão a toda e qualquer forma de literatura também na infância.  4Partindo deste pressuposto, quanto mais cedo a criança tiver contatos com livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior é a probabilidade de nela nascer de maneira espontânea, o amor aos livros.
Desde muito cedo, a criança gosta de ouvir a história de sua vida, a mais importante para ela.
Da reunião de histórias do passado, a criança constrói o quadro dela mesma no presente.
A literatura é importante para o desenvolvimento da criatividade e do emocional infantil. Quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara sentimentos que têm em relação ao mundo. As  histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância como medos, sentimentos de inveja, de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinar infinitos assuntos (CARUSO, 2003).
É através de uma história que se pode  descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo história, geografia, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc... sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula...
Porque, se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer, e passa a ser didática, que é um outro departamento (não tão preocupado em abrir todas as comportas da compreensão do mundo) (ABRAMOVICH, 2003).
Da mesma forma, as histórias inventadas são importantes. A criança precisa saber de coisas que não fazem parte de sua experiência cotidiana. É comum ela ter um amigo imaginário ou atribuir qualidades humanas e sobrenaturais a um brinquedo ou a um animal.
As conversas e as histórias desses personagens, unindo o real e o imaginário, dão aos pais muitas dicas sobre seus filhos, pois é nessas horas que a criança deixa transparecer sentimentos como medo, a insegurança, o ódio, o amor.
Ler histórias para as crianças, sempre,  sempre... É suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, e encontrar muitas ideias para solucionar questões - como os personagens fizeram... - é estimular para desenhar, para musicar, para teatralizar, para brincar... Afinal, tudo pode nascer de um texto, é o que afirma Abramovich (2003).
A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência da vida real.
Citamos, por exemplo concreto: uma mãe ou um pai estão lendo um livro cativante quando a criança quer colo e aconchego. Eles tomam o bebê no colo e continuam as leituras, mas deixam a criança participar... usam suas mãozinhas para virar as páginas do livro. Após algum tempo, a criança adormece nos braços do leitor. Mas continua a sentir a emoção da leitura. Isso acontece muito mais do que imaginamos e toda vez que isso acontece está sendo lançada uma preciosa semente de amor aos livros.
É em momentos como este, quando ouve a voz do pai ou da mãe, que a criança os observa d euma outra maneira que não a usual. Como explica Caruso (2003), no dia-a-dia os pais estão mais centrados em outras coisas e automatizados em educar o tempo todo. Na hora das histórias, a fantasia toma conta e acaba fazendo com que os pais representem um outro papel, de quem também sabe brincar e participar daquele mundo de fantasia.
No entanto, é necessário sublinhar: os livros devem ser introduzidos na vida da criança deacordo com o seu nível de compreensão do mundo, de seu nível de elaboração de pensamento e sua experiência anterior. Isso significa que o livro ideal para a criança é aquele em que ela encontra tanto elementos que ela já reconhece, como alguns elementos novos, a
partir dos quais ela possa alargar seus horizontes e enriquecer sua experiência de vida.
Além disso, é fundamental que o livro venha sempre associado a momentos de prazer. Para os bebês o livrinho de plástico na hora do banho, com o qual ela pode bater na água e vê-la respingar, é muito prazeroso. Para crianças já um pouco maiores, nada é mais aconchegante que uma historinha bem contada, na hora de dormir.
Se os pais tivessem consciência da importância de contar uma história ao pé da cama para seus filhos pequenos, certamente teríamos uma adolescência menos traumatizada. As vozes do pai ou da mãe chegam aos ouvidos dos pequenos carregadas de afetividade.
Desta afetividade, que se expressa na voz, no olhar, no carinho e no aconchego, a criança precisa para minimizar os conflitos que a acompanham em seu crescimento. Sublinhamos: a fantasia e a magia de  uma história encantam e despertam as imaginações da criança e, com isso, criam  condições favoráveis para o desenvolvimento duma mente criativa e inventiva.
Outrossim, como afirma Ramos (2003), a leitura oferece a possibilidade de se ver os dados do mundo com mais amplitude. Compreender a leitura de um texto é uma das tarefas mais significantes para a escola, professores e alunos, pois leva o indivíduo a conhecer a si e aos outros, preparando-se para sua formação humana.
Contar histórias é uma arte. Muitas pessoas têm um dom especial para esta tarefa. Mas isso não significa que pessoas sem esse dom excepcional não possam tornar-se bons contadores de histórias. Com algum treinamento e alguns recursos práticos qualquer pessoa é capaz de transmitir com segurança e entusiasmo o conteúdo de uma história para pequenos.
Repetimos: os recursos e os métodos que usamos para contar uma história têm seu valor, mas nada pode substituir a afetividade pessoal que acompanha a história. Citamos a experiência de um pai: a filha com 5 anos de idade fazia questão que o pai a levasse para a cama, a cobrisse e lhe contasse uma história. Em certa fase a menina pediu, durante semanas, a repetição da mesma história que ela escutava de olhos fechados e adormecia. Um dia o pai gravou a história, levou a menina para a cama, a cobriu, ligou o gravador e retirou-se. No dia seguinte perguntou: “Gostaste da história ontem à noite?”A menina respondeu: “Não foi bom, porque quem contou a história foi o gravador.”
Isso significa que a história contada de viva voz é história humanizada. Em tempos de desumanidade, precisamos refletir sobre essa função da narrativa, projeta aos pequenos pela afetividade da voz e da presença do narrador.
A escritora francesa Jaqueline Held, em  sua obra “O imaginário no poder” nos apresenta muitos exemplos do sofrimento e da angústia que a solidão, pela ausência dos pais, provoca em cada vez mais crianças. Pais superocupados correm o risco de ignorar as necessidades e as carências dos filhos. O mesmo problema acontece em famílias hipnotizadas por uma televisão, que não permite diálogo.
Para despertar o amor e o interesse duma criança por livros, é de suma importância que ela veja e sinta que o livro motiva diálogo, traz prazer e estimula a comunhão e a afetividade.
A presença de livros e o hábito de leitura na família parecem ser condições ambientais favoráveis como se a leitura fosse transmitida por contágio. 6
2.1 Como Contar Histórias
O processo de estímulo e incentivo para se contar uma história são inúmeros, mas sua eficácia depende de como o contador os utilizará. Não há “fórmulas mágicas” que substituam o entusiasmo do contador.
Quem aspira ser um bom contador de  histórias, deve desenvolver alguns passos importantes em seus preparativos:
1) a história a ser contada e apresentada deve estar bem memorizada. Por isso, é imprescindível ler a história várias vezes e estar bem familiarizado com cada parágrafo do livro, para não perder “o fio da meada”  e ficar procurando algum tópico durante a apresentação;
2) destacar e sublinhar os tópicos mais  importantes, interessantes e significativos, para que na apresentação recebam a devida valorização;
3) procurar vivenciar a história. Envolver-se com ela, fazer parte dela e sentir a emoção dos personagens e ao apresenta-la atrair os ouvintes para a magia da história;
4) ao apresentar a história, falar com naturalidade e dar destaque aos tópicos mais importantes com gestos e variações de voz, de acordo com cada personagem e cada nova situação. No entanto, é preciso cuidar para não exagerar nos gestos ou nas entonações de voz;
5) oferecer espaço aos ouvintes que querem interferir na história e participar dela. Quem se sente tocado em seu imaginário sente necessidade de participar ativamente no desenrolar da história. O importante é que nessa hora não haja pressa, contando ou lendo tudo de uma só vez. É preciso respeitar as pausas, perguntas e comentários naturais que a história possa despertar, tanto em quem lê quanto em quem ouve. É o tempo dos porquês;
6) toda história e toda dramatização devem ser apresentadas com entusiasmo e paixão. Sempre devem transparecer a alegria e o prazer que elas provocam. Sem esses componentes, os ouvintes não são atingidos e logo perdem o interesse pelo que está sendo apresentado.
Segundo Abramovich (1993), “o ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo. Afinal, tudo pode nascer dum texto!” A criança, ao ouvir histórias, vive todas essas emoções. Afinal, escutar histórias é o início, o ponto-chave para tornar-se um leitor, um inventor, um criador.
3 QUE RECURSOS E MATERIAIS USAR
Para Ramos (2003), “a leitura é o meio mais importante para se chegar ao conhecimento. Não importa a quantidade que lemos, o que importa é com que profundidade chega-se a esse entendimento.” É recomendável ser bastante criativo no uso de recursos materiais. Não se prender a certos padrões, mas variar de acordo com  o conteúdo da história a ser contada ou
apresentada:
1) o velho flanelógrafo (quadro revestido de flanela ou feltro de cor lisa, sobre o qual se fazem aderir objetos ou figuras, fixadas ou removidas segundo as necessidades do ensino) pode ser uma boa opção para ilustrar uma história com vários assuntos e vários simbolismos;
2) transparências, preferencialmente confeccionadas pelas crianças, podem ser outro recurso que desperta interesse e ajuda a fixar a história;
3) slides com figuras da história que está sendo contada, projetados na parede, prendem a atenção das crianças e despertam as fantasias;
4) para pequenas encenações e dramatizações, fantoches e bichos de pelúcia são bons recursos;
5) a massa de modelar pode ser usada pelas crianças para confeccionar figuras da história que acabaram de ouvir, com isso recapitulam e fixam a história;
6) materiais colhidos na natureza e trazidos pelas crianças para ilustrar certos contos de fadas, por exemplo, prendem a atenção e valorizam a sua participação;
7) mudar de ambiente para contar a história da cidade: levar as crianças ao museu, a um cemitério com antigas sepulturas e convidar uma pessoa idosa para falar do passado.
Nesse sentido se oferecem muitas possibilidades que devem ser exploradas.
No século em que vivemos o professor deve transformar sua sala de aula em um ambiente estimulante e prazeroso, utilizando-se  das mais variadas situações, para que a criança possa manifestar livremente a compreensão e os questionamentos que faz a partir da leitura de textos literários.
Outrossim, é gratificante para o professor, sentir e perceber que seus alunos foram atraídos pelos livros e que durante seu trabalho formou leitores criativos e críticos, capazes de ler e reler, analisar e interpretar qualquer tipo de texto, seja ele de cunho pedagógico, formativo ou somente de fruição.
3.1 Que História Contar
Toda história que contamos para uma criança mexe com ela, produz emoções e provoca reações. Por isso, é importante termos em mente, para a criança até aos 8-10 anos de idade, o mundo da fantasia e da realidade se fundem e confundem. Os pensamentos e os sentimentos da criança estão em permanente fermentação e ebulição e – inconscientemente – procuram respostas para certos medos e anseios. Qualquer história pode atingir uma criança profundamente e fazer com que ela peça a repetição dessa história durante dias e mesmo semanas, porque algo na essência de seu desenvolvimento e amadurecimento foi atingido.
Neste sentido, Granadeiro (2003) enfatiza que:
Nos primeiros anos da infância, a garotada assimila mais facilmente enredos que tenham crianças como personagens ou animais com características humanas, como fala e sentimentos. Dos 3 aos 6 anos, as histórias devem abusar da fantasia com reviravoltas frequentes na trama. A partir dos 7, valem as aventuras e fábulas mais elaboradas. 
Citamos, por exemplo: uma menina de 6 anos, acostumada a ouvir todas as noites uma história contada ou lida pelos pais ou irmãos mais velhos, numa certa fase queria ouvir todas as noites (durante semanas seguidas) a  história da ressurreição da filha de Jairo, 8contada na Bíblia no Evangelho de Marcos 5, 21-24 e 35-43. Certo dia, passeando com o pai pelo cemitério que ficava perto de sua casa,  perguntou: “O Opapa (avô) e todos aqui no cemitério ainda vão dormir muito até que Jesus vai acordar eles?” O pai a tomou no colo e respondeu: “Eu não sei, mas Jesus sabe quando eles devem ser acordados.” Logo o interesse da menina foi atraído por borboletas que pousavam em flores. O pai observou que naquela noite a menina pediu outra história, o assunto da ressurreição da filha de Jairo estava encerrado. O avô havia falecido há alguns meses e a história da filha de Jairo ajudou a menina a assimilar o impacto que a morte causa. Bruno Bettelheim (1980) analisa, em seu livro “A psicanálise dos contos de fada” a importância que esses contos têm no desenvolvimento da personalidade das crianças.
Eles ensinam às crianças que, na vida  real, é imperioso que estejamos sempre preparados para enfrentar grandes dificuldades. E, nesse sentido, dá também sugestões de coragem e otimismo que serão necessários à criança para atravessar e vencer as inevitáveis crises de crescimento.
Intuitivamente, a criança compreenderá que tais histórias, embora irreais ou inventadas, não são falsas, pois ocorrem de maneira semelhante no plano de suas próprias experiências pessoais.
Por isso, pais e professores precisam estar  atentos para descobrir as carências e as necessidades que as crianças que lhes são confiadas têm em cada situação concreta de sua vida.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Redescobrir antigos valores é importante para humanizar o mundo de nossos dias. O sábio rei Salomão de Israel, que viveu há mais de 2.900 anos, escreveu em Eclesiastes 3, 15: “O que é já foi, e o que há de ser também já foi; Deus fará renovar-se o que se passou.”
O tema “A magia de contar histórias” é fascinante e quem se ocupa com ele fica triste ao ver como essa “magia” está desaparecendo aos poucos. Mas ao mesmo tempo, o tema faz nascer a esperança de que o maravilhoso tempo em que a magia de contar histórias preenchia o dia-a-dia em nossos lares está voltando silenciosamente.
Contudo, se a criança não lê é porque não lhe estão apontando caminhos para o desfrute de bons e belos textos... Que existem (tantos) e são fáceis de achar... Literatura é arte, literatura é prazer...
Além do mais, acreditamos que o público infantil nunca vai deixar de se interessar por esses personagens e enredos, desde que  os adultos se empenhem em melhorar sua capacidade como bons contadores de histórias
Felizes são aqueles que têm sensibilidade para perceber que o futuro da humanidade depende da maneira como formamos e educamos as crianças que nos são confiadas.






Contação de história em Libras


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